Problema
Em Moçambique, a violência contra as mulheres e raparigas atinge grandes proporções e diversas formas, sendo as mais comuns a agressão física, a violência sexual, as uniões forçadas de raparigas (chamadas de “casamentos prematuros”) e outras formas de violência e práticas discriminatórias que atentam contra a liberdade e a autonomia das mulheres e raparigas, atingindo a sua integridade física, psicológica e a sua dignidade.
Apesar de um quadro legal que define algumas das formas da violência contra as mulheres e raparigas como crime e que as penaliza, incluindo a Lei da Família, a Lei do Tráfico de Pessoas Humanas Especialmente de Mulheres e Crianças, a Lei de Protecção dos Direitos das Crianças, a Lei Sobre a Violência Doméstica Praticada Contra a Mulher, ele exclui outras práticas de violência e de discriminação. Adicionalmente, há indícios de que a violência e práticas discriminatórias contra as mulheres e raparigas tendem a aumentar.
Causas do problema
A dominância dos valores patriarcais, em que o homem é considerado superior à mulher, quer dentro da família, quer na sociedade em geral e as práticas culturais, tais como os ritos de iniciação, o lobolo, a poligamia e a superstição, constituem as principais causas da violência contra as mulheres e raparigas.
Para além disso, o agravamento das condições económicas das famílias, como resultado das políticas de desenvolvimento adoptadas no País, é um factor adicional que pode estar a contribuir para o aumento da violência contra as mulheres e raparigas. Esse agravamento acontece num contexto em que o País herdou uma cultura de violência, herança de mais de 16 anos de guerra, que facilita a expressão de formas de violência típicas de uma cultura militarista.
O País conta hoje com um conjunto de legislação e de políticas públicas que são instrumentos de prevenção e de penalização de muitas das formas de violência. No entanto, a sua aplicação é limitada pelo facto de o Estado não alocar os recursos necessário para a sua implementação efectiva, equipando o sistema policial, o judicial, o de saúde e o de acção social com meios e recursos necessários, o que resulta na impunidade dos perpetradores e na falta de confiança no sistema pelas vítimas, para além de ela não abranger todas as formas de violência contra as mulheres e raparigas. Adicionalmente, ela não é suficientemente conhecida na sociedade, o que limita a demanda pela sua aplicação efectiva.
Ademais, alguma legislação ainda discrimina as mulheres, como a Lei das Sucessões, que não está harmonizada com a Lei da Família, o que possibilita que muitas mulheres sejam despojadas dos seus bens e propriedades pelos familiares do marido, por falta de protecção legal, o Código Penal que ainda contém disposições discriminatórias, entre outros dispositivos legais.
Mudança necessária
Para reverter este quadro, é preciso, em primeiro lugar, mudar as atitudes, comportamentos e mentalidades na sociedade, promovendo a adopção de valores baseados na igualdade de género, em relações de respeito mútuo, sem violência. Sendo Moçambique um país com várias realidades sócio-culturais e religiosas, estratégias diferenciadas por zonas culturais do País, bem como por valores das diferentes religiões, podem revelar-se mais eficazes, adaptando as mensagens aos grupos-alvo das acções de educação e consciencialização.
Ao nível de políticas públicas e da legislação, é necessário assegurar que sejam criadas condições para a sua implementação efectiva, fazendo com que elas sejam, de facto, um factor dissuasor da
violência contra as mulheres e raparigas. Adicionalmente, é necessário prosseguir com os esforços para influenciar a melhoria e harmonização das políticas públicas e da legislação, incorporando todas as formas de violência contra as mulheres e as raparigas e harmonizando conceitos. Para além disto, é necessário envidar esforços para promover um maior acesso à justiça, ainda limitado pelas distâncias e pela qualidade dos serviços disponíveis.
A promoção de um maior conhecimento sobre a problemática da violência baseada no género, capacitando as comunidades, as instituições de ensino e de pesquisa, os intervenientes do sector publico e da sociedade civil para uma compreensão mais coerente do fenómeno, permitirá identificar as intervenções mais adequadas e apropriadas e estabelecer parcerias e alianças necessárias para uma maior abrangência das intervenções nesta área.
A coordenação e a colaboração entre as organizações da sociedade civil envolvidas na luta contra a violência e na prestação de serviços às vitimas, partilhando métodos de trabalho, práticas inovadoras, assuntos e estratégias de advocacia irá permitir estabelecer abordagens e modelos efectivos de intervenção, bem como produzir contribuições para o Mecanismo Governamental de Atendimento Integrado.
Papel do FM
O Fórum Mulher irá impulsionar os seus membros e outros actores a realizar acções de educação e consciencialização sobre os direitos humanos das mulheres, direccionados a mulheres e homens, raparigas e rapazes. Espera-se que essas acções, coordenadas e articuladas pelo FM, irão contribuir para a adopção dos novos valores baseados na igualdade de género, em relações de respeito mútuo, sem violência.
Acções de advocacia para a implementação das políticas públicas e da legislação relevante por um lado, e por outro para a melhoria dessas políticas e da legislação, serão continuadas. Campanhas de divulgação e actividades de formação sobre as políticas públicas e sobre a legislação ligadas à prevenção e combate contra a violência de género também serão continuadas.
Para sustentar essas acções de advocacia, serão realizadas acções de monitoria das leis e políticas públicas. A monitoria da implementação das políticas públicas e da legislação relevante permitirá produzir evidências e informação que alimentarão as iniciativas de advocacia, tanto junto das entidades públicas, como junto ao cidadão.
O FM irá incentivar o fluxo de informação entre os diferentes actores da sociedade civil, bem como a colaboração e a coordenação entre os mesmos, visando gerar informação e experiências que permitam influenciar as abordagens do sector público, particularmente a que se espera venham a ser implementadas através do Mecanismo Governamental de Atendimento Integrado.
Bom dia!
Obrigada por fazer parte deste forum.
Um dia sossegado
Ola Sandra nos agradecemos mais por saber que acompanha nosso trabalho e sente-se parte desta luta. seguiremos em marcha ate que todas sejamos livres.