Chama-se Neida Ernesto, tem 17 anos de idade e frequenta a 12ª classe na Escola Secundária da 12 de Agosto de Inhambane. Há um mês, tornou-se mãe de uma pequena Yuna, após uma gravidez que quase interrompeu a sua ida à escola, para além de lhe valer preconceito por parte das suas colegas.
“Riam de mim quando estava grávida, não era fácil”, relata Neida Ernesto, num momento em que se sente aliviada após o parto.
A família descobriu que ela estava grávida em Maio do corrente ano, quando estava com cinco meses, e ela foi enviada dois meses mais tarde à casa do pai da criança.
“Fiquei lá dois meses, e depois voltei para casa”, contou, visivelmente feliz pelo retorno ao convívio familiar.
Neida é uma das meninas que se beneficiou indirectamente de uma palestra realizada pelo Fórum das Associações Feministas de Inhambane (FAFI), em Julho do ano em curso, cujo objectivo era falar das Uniões Prematuras, violência baseada no género e interrupção voluntária da gravidez.
A palestra foi ministrada numa outra sala, mas os participantes, colegas da Neida, denunciaram a existência de um caso de gravidez e casamento prematuro, que era ela.
A estratégia dos palestrantes é procurar reunir com o maior número de raparigas, o que é possível nas escolas secundárias.
De acordo com as autoridades provinciais, regista-se pelo menos cinquenta casos de uniões prematuras por mês naquela província do sul do país.
A palestra dirigida aos alunos do secundário, aconteceu no âmbito do projecto “Enriquecendo a Participação Activa da Sociedade Civil para a Promoção da Igualdade de Género e o Empoderamento das Mulheres e Raparigas,” implementado pelo consórcio composto pelas organizações Fórum Mulher, WLSA Moçambique, Fórum da Sociedade Civil para os Direitos da Criança (ROSC), AMMCJ e o Centro Informazione e Educazione Allo Sviluppo ONLUS (CIES), e que conta com apoio da União Europeia em Moçambique, no contexto do Programa de Apoio aos Actores Não Estatais (PAANE II).
A rapariga foi informada da possibilidade de poder regressar à casa dos pais, continuando a estudar e realizar os seus sonhos.
“Quero ser médica, estou a estudar para isso”, disse a menina que reside no Bairro de Salela, na cidade de Inhambane.
Devido ao avançado estado de gravidez, que já tinha sete meses, não se podia avançar com a interrupção voluntária.
Neste caso, os técnicos do Ministério do Género, Criança e Acção Social tiveram de intervir para garantir que a criança e a mãe tivessem condições mínimas.
Mas ainda assim houve ganhos enormes, de acordo com a oficial de campo do FAFI, Joana Angalaze. Ela voltou a estudar, porque quando uma mulher está no lar, não é possível conciliar os trabalhos domésticos, bebé e a escola. Então levamos ela para o convívio familiar onde ela terá mais espaço, para poder ir a escola e cuidar bebé, pois não terá actividades específicas como nora.
“Uma vez que tem 17 anos, vai gozar dos seus direitos como criança. Pois estando no lar (casa do pai da criança) não vai poder brincar, passear, ter a liberdade de estudar”, disse acrescentando que será uma mulher empoderada e com formação.
Na escola onde a Neida frequenta, existe uma Ponto Focal, também denominada “madrinha”, que dá assistência às raparigas sobre os temas das uniões prematuras, violência baseada no Género e interrupção voluntária da gravidez.
O FAFI tem capacitado as professoras e respectivas alunas, para conhecer os temas uniões prematuras, violência baseada no Género e interrupção voluntária da gravidez.