Partilhar a experiência sobre violência doméstica durante as sessões é uma estratégia que Maria Angelina usa para sensibilizar as outras mulheres que passam pelo mesmo a denunciar o agressor.
Maria Angelina tem participado activamente como oradora nas palestras de mobilização e sensibilização das comunidades sobre de Uniões Prematuras, Violência Baseada no Género e Interrupção Voluntária da Gravidez, realizadas pelo Fórum das Associações Feministas de Inhambane (FAFI), na província de Inhambane.
Ela conta que se separou do marido há 15 anos, após momentos muito conturbados da relação, em que sofria agressões físicas por parte do parceiro.
De acordo com ela, o marido a espancava recorrentemente, mas de seguida pedia desculpas, escrevendo mais de uma dezena de cartas.
“Ele espancava-me até ficar em coma em casa, por mais de uma semana”, relatou.
Após várias conversas infrutíferas com familiares, decidiu levar o caso às autoridades policiais, que também não davam o devido seguimento.
Em mais um momento em que servia de saco de pancadas, ela ligou para a polícia, que veio prender o marido em flagrante.
Maria Angelina levou o caso directamente à Procuradoria-Geral da República, anexando as dez cartas e as cópias dos processos que deram entrada na esquadra de polícia.
Quando chegamos ao tribunal, ela disse: “Sr. Juiz, eu não quero falar nada. Tudo o que tinha para dizer está aí nos documentos e as provas também. Já não quero saber deste aqui”, recorda.
A sessão de julgamento decorreu e terminou no mesmo dia, e o marido foi condenado. Ela se separou do mesmo e ficou com as crianças.
A sua história serve de exemplo para que outras mulheres recebam a palavra e denunciem as situações de violência doméstica.
Maria Angelina é funcionária da Universidade Eduardo Mondlane, mas também é chefe do quarteirão na zona onde reside.
Isso permite que ela seja flexível, e receba as activistas do Fórum das Associações Feministas de Inhambane (FAFI) para ministrar palestras na sua zona residencial, reduzindo assim os casos de violência baseada no género.
“Após saberem da minha história, eu disse (FAFI) que estou disponível a trabalhar com eles”, no sentido de ajudar nas denúncias e redução de casos de violência, disse.
Aliás, de acordo com as activistas, as actividades só são possíveis quando houver apoio do Estado ou de lideranças locais.
As palestra onde Maria dá o seu testemunho acontecem no âmbito da projecto “Enriquecendo a Participação Activa da Sociedade Civil para a Promoção da Igualdade de Género e o Empoderamento das Mulheres e Raparigas,” implementado pelo consórcio composto pelas organizações Fórum Mulher, WLSA Moçambique, Fórum da Sociedade Civil para os Direitos da Criança (ROSC), AMMCJ e o Centro Informazione e Educazione Allo Sviluppo ONLUS (CIES), e que conta com apoio da União Europeia em Moçambique, no contexto do Programa de Apoio aos Actores Não Estatais (PAANE II).