Sou Vitória da Conceição Carlos Segundo, tenho 28 anos e sou mãe solteira. Fundei uma organização de mulheres empreendedoras em Nampula por causa daquilo que eu estava a viver. Sofri todo o tipo de violência, sexual e doméstica. Aos 13 anos fui aos ritos de iniciação e depois decidi casar para ajudar a minha família.O meu pai tinha 6 filhos e não trabalhava. Casei com 16 anos com um homem 16 anos mais velho que eu. No entanto ao invés de ajudar a minha família eu só aumentei a pobreza! Fiz 4 filhos sem saber o que era uma cama, dormíamos na esteira.
O meu parceiro abusava de mim. Sempre que voltava do serviço, ele abusava de mim. Quando tive o primeiro filho, muito antes da criança completar um ano, ele já queria ter relações sexuais comigo. Como eu recusava, ele usava a força e, por isso, acabei engravidando antes do meu primeiro filho começar a andar. Nesse uso abusivo da força, ele rasgou-me uma parte da barriga. Tenho uma cicatriz que nunca me esquecerei dela. Mas eu não dizia nada aos meus pais, porque fui ensinada nos ritos que devia suportar o lar. Só depois de viver 10 anos e ter 4 filhos é que me apercebi de que estava mal e que precisa de ajuda.
Decidi começar a trabalhar. Ele chamava-me «prostituta» e tirou-me do meu primeiro emprego. Em 2012 consegui outro emprego e, quando recebi, ele levou todo o meu salário. Foi bebere ligou-me da barraca para me dizer que eu não era nada! Decidi, nesse dia, sair de casa. Fui alugar uma casa e tentei seguir a minha vida.
Em 2012, quando eu ainda estava casada, o meu pai convidou-me a participar numa formação do FM. Falava-se de fístula e de violência contra a mulher. Nesse dia eu fui, depois de receber pancada dele. Ouvi histórias de outras mulheres e comecei a chorar! Recordo-me que foi a Maira que me acalmou. Aprendi, nessa formação, que sexo se prepara, mas eu não sabia. Vivi 12 de casada sem saber que sexo se prepara. Aprendi muito nessas formações.
De seguida, decidi «abrir-me» com o meu pai. Ele levou o caso a tribunal, mas o meu marido fugiu. Comecei a fazer parte do Nugena, que é membro do FM, e fui formada como activista. Decidi expandir os conhecimentos, comecei a conversar e a sensibilizar mulheres para perceberem que podiam fazer mais.
Comecei a observar o sofrimento de outras mulheres. Fui ter com uma moça que tinha casado aos 13 anos e que aos 16 já tinha dois filhos. Ela estava a passar por tudo aquilo que eu já tinha passado. Dei do meu dinheiro (1000 Meticais) para ela iniciar um negócio e juntas fazíamos um xitique. Abri um negócio na casa que eu alugava, porque eu sei fazer tranças. Coloquei lá uma moça e o número aumento para três. Então decidimos expandir e trazer mais mulheres.
Agora somos 45 mulheres! Pagamos cotas mensais e nos dias de encontro, cada uma deve trazer o fundo que nos ajuda a deslocar para lugares mais distantes. Voltei à escola, fiz o curso de Contabilidade e trabalho como Técnica de Contas. Mas a organização está a andar.
A segunda que recrutámos também voltou à escola e agora trabalha como professora. As formações do Fórum Mulher ajudaram muito e hoje eu sinto-me uma mulher forte e capaz.