“Somos as guardiãs da terra, da vida, das sementes e do amor”. Este é o lema que reuniu mulheres de vários países da África Austral na Assembleia das Mulheres Rurais e na terceira edição da Escola Feminista. O Fórum Mulher fez parte de uma delegação composta por mulheres rurais e pela UNAC que participou durante seis dias, 29 Junho a 5 de Julho, em Johannesburg, na África do Sul desta edição.
A escola feminista é uma componente muito importante na formação da liderança feminista e visa tornar visível a exploração das mulheres e da natureza observando como a economia e os sistemas políticos estão configurados e funcionam. A escola também tenta mostrar a forma como as corporações e os ricos se beneficiam dos recursos naturais como a terra, as florestas, os minerais e a água, na sua maioria à custa do resto da população, sobretudo mulher.
A Assembleia das Mulheres Rurais (RWA) é uma rede ou aliança auto-organizada de movimentos nacionais e internacionais de mulheres rurais, assembleias, organizações de base, de sindicatos, federações e movimentos camponeses mistos em oito países da região da SADC.
Durante um período de quatro anos, reuniu mulheres pobres e rurais em Assembleias regionais de mulheres rurais; em plataformas internacionais coincidindo com grandes eventos multilaterais e em processos regionais que também foram paralelos às reuniões da SADC. Trata-se de um evento que reuniu mulheres da região da SADC para debater, enquanto mulheres, os seus problemas, os seus desafios e como cada país pode ajudar.
As sessões levavam debates sobre como empoderar a mulher, o que dá poder a esta mulher e a sua relação com a terra e a semente. As participantes foram unânimes em dizer que o seu poder vem da terra, pois é dela que conseguem produzir e posteriormente revender. A terra ajuda cada uma a ter a sua autonomia financeira e, consequentemente, a serem donas das suas escolhas.
Em relação aos problemas, a violência ocupou o topo da lista manifestando-se esta de várias formas como através da economia e de sistemas políticos, ou seja, o patriarcado capitalista.
O patriarcado capitalista é um sistema que oprime e explora a mulher de todas as formas possíveis.
Em Moçambique, o sistema existe e é o mesmo que tem sido usado para dominar a mulher e sustentar a riqueza da pequena burguesia, uma minoria que consegue, através da exploração, manter um alto nível de vida e, pelo seu poder, influenciar as estatistas. O patriarcado violenta a mulher de diferentes maneiras, quer através da terra, quer das sementes.
A exploração dos recursos minerais, muitas vezes, significa a retirada de famílias que normalmente sobrevivem com base na produção agrícola. Essa produção é garantida pela mulher que, nesta situação, é obrigada a deslocar-se em busca de novas terras e de novos desafios, propiciando assim o ciclo de pobreza.
As grandes multinacionais, no seu processo de implantação, nunca buscam terras brutas; tiram famílias do seu habitat natural, implantam a sua estrutura e, em seguida, exploram a mulher e as crianças como mão-de-obra barata.
Nos processos de sucessão de terra, em nenhuma parte a mulher é a herdeira principal. A terra é passada de pais para filhos, irmãos e pais. Este processo não inclui a mulher.
O governo obriga as mulheres camponesas a usarem as sementes geneticamente modificadas com promessas de produção em grande escala, mas a verdade é que as mulheres têm as suas sementes nativas que são passadas de geração em geração e são as mesmas que garantem a produção destas famílias. As sementes modificadas, ainda que dêem uma boa produção, são danosas ao meio ambiente podendo levar a terra a infertilidade completa. Depois de a terra secar e já não poder produzir mais, as mulheres são obrigadas a abandonar a vida agrícola para buscar outras fontes de renda e têm poucas oportunidades, comparadas com os homens.
No contexto de trabalho, as mulheres não competem no mesmo pé de igualdade que os homens. As oportunidades de crescimento profissional das mulheres são escassas e, por vezes, condicionadas a um relacionamento com os seus superiores.
Olhando para o capitalismo como um desafio que se opõe a todas as mulheres rurais, estas elaboraram um manifesto onde lançam as suas demandas: “Como Assembleia das Mulheres rurais nós acreditamos que o patriarcado capitalista é um sistema que explora e promove o ciclo de pobreza nas nossas comunidades. Como feministas radicais do RAW nós recusamos ser controladas e oprimidas por este sistema. Juntas temos força e vontade de lutar contra este sistema”, exigem as participantes.
Depois de várias sessões, as mulheres rurais produzem uma declaração que seguirá em carta de demanda das mulheres para as Nações Unidas e para todas as organizações que lutam em prol do DHM.