Cerca de 34 pessoas de várias organizações da sociedade civil e instituições públicas participaram num debate sobre mobilidade pública e género que se realizou no dia 15 de Março de 2018, no Centro Cultural Franco-Moçambicano, em Maputo. O debate surge da necessidade de criar uma ponte entre os utentes para a melhoria da mobilidade pública tendo em conta as questões de género no âmbito das comemorações do Dia Internacional da Mulher e foi organizado pela Marcha Mundial das Mulheres de Moçambique em coordenação com o Fórum Mulher.
O especialista em mobilidade, Joaquim de Tejada afirma que existe uma ponte entre mobilidade e género e apresentou um sistema de transportes que é onde as mulheres aparecem vulnerabilizadas pois o mesmo não favorece a questão de género e explica a razão. “Para fazer-se no interior dos transportes semi-colectivos, é preciso ter força física e os homens têm vantagens nesse aspecto. As terminais de chapas (Xipamanine, Xiquelene, Zimpeto, etc.) são, maioritariamente, escuras e as mulheres são obrigadas a fazer ligações para evitar esperar nessas terminais, mas acabam chegando tarde a casa. O percurso da paragem à residência é outro ponto que aflige as mulheres. E, neste contexto da chegada tardia devido às ligações, levanta-se outra problemática que é a violência doméstica, justificada pela tardia chegada a casa”, explica.
Vânia Nhambire, uma das participantes no debate, conta que já teve experiências desagradáveis no transporte público justificado pela enchente do mesmo. “Um homem começou a encostar-se a mim e a simular movimentos sexuais. Quanto mais eu fugia, mais ele se aproximava e, quando reclamei, ele perguntou se eu não via que o chapa estava cheio”, conta.
Tomando a palavra, overeador de Transportes e Trânsito do Município de Maputo, João Matlombe, explicou que o município tem feito esforços para melhorar a mobilidade pública, que algumas paragens foram melhoradas tendo convidado as organizações da sociedade civil a juntar-se ao Município para que juntos possam melhorar o acesso das mulheres ao transporte público e para que as questões do género sejam acauteladas.
Foi dada a palavra à sociedade civil que, na voz de uma mulher, disse que as mulheres não são vulneráveis, mas sim são vulnerabilizadas. Acrescentou ainda que uma série de factores são impostos para que as mulheres se tornem no elo mais fraco.
Outra participante mostrou o seu desagrado em relação ao oportunismo que se verifica nos transportes públicos. “Existem homens que apalpam as mulheres nos carros, que se fazem de doentes mentais, mas na verdade são homens normais, que sabem que aquilo é errado, mas continuam fazendo porque sentem que podem usufruir do corpo da mulher”, disse.
Os desafios nos transportes públicos são dados como um dos factores que também contribuem para a desistência das mulheres à escola.