Maira querida!
Nossa Colega, Companheira, Amiga, Activista, Mulher Multifacetada!
Nos sentimos impotentes, sem força, contudo, mesmo com as lágrimas rolando em nossas faces, mais do que lhe chorar, queremos nestas linhas, celebrar-lhe! Sim Maira! Queremos celebrar a sua vida, seus feitos, seu legado!!!…
Maira Solange Hari Domingos, nascida aos 11 de Abril de 1981, juntou-se à família Fórum Mulher e ao movimento de luta pelas injustiças sociais, desigualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres, no ano de 2006, onde entrou com uma simples estagiária/activista no âmbito da campanha do aborto seguro promovido pela IPAS, lugar este que ocupou por muito pouco tempo, pois, logo nos primeiros meses se notabilizou e granjeou muita simpatia pelas suas qualidades profissionais e humanas, pese embora, acabasse de sair da academia. Foram estas qualidades que fizeram com que a Maira fosse selecionada para beneficiar de uma bolsa de estudo de curta duração no Brasil onde foi cursar Direitos Humanos com enfoque nos Direitos Sexuais e Reprodutivos.
Regressada à Moçambique Maira sempre demonstrou com a sua forma didática e alto sentido de profissionalismo e responsabilidade na forma como lidava com todos os assuntos que lhe eram colocados na mesa, que em 2008 ascendeu ao cargo de coordenadora do Programa de Direitos Sexuais e Reprodutivos que era uma área nova no Fórum Mulher o que era muito desafiador, contudo, a nossa Maira soube levar esta área ao bom Porto, basta lembrar que muitas mulheres, raparigas, adolescentes, jovens, homens de diferentes extractos sociais, foram capacitadas pela Maira, do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao índico, a semente foi lançada e brotou os seus frutos.
Em 2019 Maira ascendeu ao cargo de Directora de Programas, cargo este que ocupou até á data da fatídica partida!
Foram muitas as lutas que juntas travamos dentro e fora do país, e esperávamos ainda travar, não caberiam nestas linhas, contudo, gostaríamos de deixar registadas algumas delas, a participação e colaboração na rede de DSR, Campanha sobre o Protocolo de Maputo, Campanha de despenalização do aborto, campanha para a revisão do código penal, empenho no tratamento das mulheres vivendo com fístula obstétrica, campanhas para a aprovação da Lei da violência, família, sucessões, de entre tantas. A sua marca está presente em cada um destes momentos e ela foi escrita com tinta indelével.
Quando no dia 24 de Janeiro, recebemos a mensagem comunicando-nos do seu estado de saúde, longe poderíamos imaginar que fosse algo tão grave que pudesse arrancar-nos de nós de uma forma prematura, nós acreditávamos que fosse uma simples malária e que tem cura, contávamos nós te ter de volta o mais breve possível. Fomos partilhando com as companheiras e companheiros do movimento sobre a evolução do seu estado de saúde, e todas e todos nós estávamos tão optimistas e tão esperançosas que logo, logo tudo iria passar, porque ela irias lutar até vencer essa maldita doença, aliás, conhecendo-lhe sabemos que lutou, porque não iria querer deixar a sua caminhada pelo meio, contudo, a doença foi mais forte que lhe tirou de nós!
A notícia da sua partida para a Glória, caiu-nos como um tsunami que até agora ainda estamos abaladas, sem norte, tentando perceber o porquê de arrancar-nos a ela tão cedo, quando ainda contávamos consigo para a nossa caminhada que ainda é bem longa.
Contudo, conforta-nos saber que enquanto peregrinava nesta terra, cumpriu a missão que tinha sido incumbida, de lutar pelas injustiças sociais, pelos Direitos Humanos das Mulheres e Raparigas e até dos homens, porque não, porque ela acreditavas num mundo melhor, onde mulheres e raparigas pudessem gozar dos seus direitos, sem temerem nenhuma represália, sem sofrerem nenhuma discriminação, onde o patriarcado fosse erradicado, onde nenhuma rapariga tivesse o seu futuro hipotecado por conta de uniões prematuras e forçadas, onde as mulheres pudessem viver uma vida livre de todas as formas de violência.
Maira! Hoje já não está mais entre nós fisicamente, não podemos continuar a marchar contigo até a AR, até á Praça da Independência entre outros, mas o seu legado, esse nunca morrerá, nós suas colegas, companheiras, amigas e activistas, continuaremos com a luta que juntas iniciamos. Podem acreditar que iremos imortalizar os seus feitos, para que os seus filhos quando crescerem possam saber quem foi a mãe e o quão a mãe lutou para o bem social, que os momentos que a mãe não pode estar com eles é porque tinha uma missão muito nobre para cumprir, que em nenhum momento lhes abandonou, mas fê-lo para o bem-estar deles e da humanidade!
Neste momento que lhe rendemos homenagem, queremos dizer obriga, colega, obrigada companheira, activista, mulher multifacetada, por tudo!
Ao seu esposo Nelson, aos seus filhos Erick e Ayla, aos seus irmãos, e toda a família Muando e Domingos, apresentamos as nossas mais sentidas condolências e nos colocamos ao vosso dispor, contem sempre connosco. A vossa perda é nossa perda também, o país perdeu uma grande heroína, uma grande defensora dos Direitos Humanos no Geral e Direitos Humanos das Mulheres e Raparigas.
À querida Maira, lhe desejamos um eterno descanso e que os anjos lhe conduzam ao paraíso!
Até Sempre Querida Maira!
Seguiremos em Marcha, até que Todas Sejamos Livres.