A activista Lurcy Valentim considera que a colaboração com o Governo tem sido muito frutífera, pois só assim conseguem chegar às meninas nas escolas e comunidades sem barreiras e em segurança.
“Agradecemos a essa colaboração com o FAFI, porque se estivéssemos sozinhas a nossa voz não teria chegado onde nós queremos”, referiu a activista do Fórum das Associações Feministas de Inhambane (FAFI).
“A nossa parceria com instituições governamentais tem sido muito boa e temos feito sessões com essas instituições Procuradoria-Geral da República (PGR), Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica (IPAJ), Ministério da Saúde e a Polícia que trabalham directamente com violência doméstica e aborto seguro”, referiu.
Apesar da ajuda das instituições do Estado, a abordagem não tem sido fácil devido ao machismo que domina a província, acrescenta.
A activista conta que houve recentemente um caso de aborto seguro, numa comunidade, mas foi um desafio. Houve necessidade de se voltar com a polícia, PGR e MISAU e no dia seguinte informaram pelo telefone que existe uma rapariga que precisava de interromper uma gravidez.
Esta parceria com as instituições do Estado torna os processos judiciais mais céleres e o atendimento hospitalar mais rápido.
“Há famílias que dizem ‘vocês estão a vir destruir os nossos princípios: se a minha filha chegou tarde ou engravidou que vá onde está o marido’. Não é fácil. Estamos a tentar sensibilizar as famílias”, exemplifica.
“Tudo bem aconteceu este erro, mas não deixa de ser vossa filha, caso vá para lá, ela vai comprometer o próprio futuro e ela não vai estudar. E este rapaz vai continuar a estudar e vai progredir enquanto ela retarda” acrescenta.
Para o FAFI, o principal desafio no acesso às escolas tem sido a burocracia, mas felizmente as boas relações têm funcionado para ultrapassar certas barreiras.
Nas escolas, é normal acontecer algo anormal com elas e não saberem que se trata de violência, mas após palestras, “elas podem ligar e dizer o que está acontecendo nas escolas”, disse.
Nas escolas, onde se encontram grande parte de adolescentes, existe uma figura denominada “madrinha”, que serve de elo entre o FAFI e as alunas.
Um dos desafios, contam as activistas, é eliminar tabus sobre a interrupção voluntária da gravidez. Algumas pessoas recomendam tomar uma coca-cola quente, ou uso de outros métodos errados, em vez de optar pelo aborto seguro nos hospitais.
Refira-se que as acções foram levadas a cabo no âmbito do Projecto “Enriquecendo a Participação Activa da Sociedade Civil para a Promoção da Igualdade de Género e o Empoderamento das Mulheres e Raparigas,” implementado pelo consórcio composto pelas organizações Fórum Mulher, WLSA Moçambique, Fórum da Sociedade Civil para os Direitos da Criança (ROSC), AMMCJ e o Centro Informazione e Educazione Allo Sviluppo ONLUS (CIES).
O projecto conta com apoio da União Europeia em Moçambique, no contexto do Programa de Apoio aos Actores Não Estatais (PAANE II).