“Inesquecível”. Assim Ana Carolina, gerente de Programas da ONU Mulheres, resume o dia 18 de novembro de 2015. Naquela data, 50 mil mulheres negras ocuparam a Esplanada dos Ministérios, com cabelos em estilo afro, turbantes, palavras de ordem, bandeiras e, sobretudo, histórias de vida marcadas pela resistência ao racismo. Diante de um Congresso Nacional com baixíssima representatividade dessa população – na Câmara dos Deputados, foram eleitas apenas duas negras na atual legislatura –, a Marcha das Mulheres Negras reivindicou reconhecimento, protagonismo e uma nova sociedade.
A ideia de organizar a marcha surgiu em 2011, durante o Fórum Afro XXI. O encontro celebrava o Ano Internacional dos Afrodescendentes, declarado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2009. Uma das idealizadoras da mobilização, Nilma Bentes, da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), relembra que a iniciativa foi sendo fomentada em conversas entre diferentes organizações. Anos depois, a pauta foi definida: Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver.
“Mesmo sabendo que o racismo, por si só, é uma violência, o termo foi incorporado para ressaltar a impunidade na matança de negros, sobretudo da juventude, pela mão da polícia; pelo sistema de saúde [em referência a grávidas e idosas]; e, ainda, porque o feminicídio tem atingido mais as negras. Já o Bem Viver foi incorporado para sinalizar que acreditamos na necessidade de mudança do chamado ‘modelo de desenvolvimento’, combatendo, portanto, a mercantilização-financeirização dos recursos naturais/bens comuns, o consumismo exacerbado, o lucro insano, o capitalismo neoliberal”, explica Nilma na introdução do livro Marcha das Mulheres Negras, publicado pela AMNB em 2016.
A diversidade de mulheres e organizações que atuam em defesa da população negra não impediu a unificação em torno da iniciativa. Ao contrário, tais especificidades definiram os contornos da marcha, que ganhou organicidade por meio do Comitê Impulsor Nacional e articulações semelhantes em diversos estados da Federação. Reuniões, debates, eventos para arrecadação de recursos foram realizados, resultando em um processo de aproximação.
No dia 18, em Brasília, essas mulheres chegaram ao auge do processo. A marcha trouxe à tona questões como discriminação, extermínio da juventude negra, precariedade do trabalho e alta incidência de violência contra as mulheres negras. A jornalista e uma das organizadoras da marcha em São Paulo, Juliana Gonçalves, relembra a importância do evento.